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2024: O ano em que o foguete deu ré, mas a (des)humanidade permaneceu a mesma.

  • Foto do escritor: Luciana Garcia
    Luciana Garcia
  • 9 de jan.
  • 3 min de leitura


Eu ainda não me recuperei do fato de que Elon Musk deu ré num foguete. Para quem não sabe, toda a lógica de construção de um foguete até então era baseada na premissa de que não havia tecnologia suficiente para que o foguete subisse ao espaço com todo aquele peso e combustível e depois voltasse. Por isso, à medida que ia subindo, ele deixava pelo caminho partes da espaçonave, e só era possível voltar à Terra numa cápsula minúscula e desconfortável. No mercado digital, a máxima de que “foguete não dá ré” impulsionou multidões de entusiasmados pelo marketing de infoproduto durante a pandemia. Pois bem, foguete tá dando ré. E agora? O que os marketeiros vão fazer, eu não sei, mas o meu lado filósofa está se perguntando: como é possível que estejamos dando ré em foguete e ainda não conseguimos, de fato, compreender e aplicar a acessibilidade na vida aqui na Terra?

Uma pergunta que vale a Mega da Virada.

Acessibilidade, aliás, é uma palavra que me remete à dignidade. Quando eu estou num lugar acessível, a sensação que eu tenho é que qualquer pessoa que estivesse lá comigo se sentiria respeitada, vista, validada.

Tenho pesquisado muito sobre acessibilidade e arquitetura inclusiva e vejo que a nossa ignorância enquanto coletividade é algo assustador. O curioso é que automatizamos expressões e pensamentos absurdos sobre o que é, para quem é, e como devem ser as coisas acessíveis.

A primeira coisa que me pega, quando falo deste assunto, é a questão de que a acessibilidade estaria voltada somente à pessoa com deficiência, quando na verdade a acessibilidade é para todos. Segue o fio: você foi, algum dia, um bebê. Como bebê, andou em um carrinho de bebê. Aos trancos e barrancos, atravessou calçadas de pedra portuguesa, pedregulhos e trechos de ruas sem acostamento. Quando chegava na esquina, provavelmente a pessoa que conduzia o carrinho (a mãe?) precisava da ajuda de outra pessoa para poder descer da calçada e atravessar a rua. Se tudo der certo (e eu estou torcendo por isso), você irá morrer em idade bem avançada e, ainda que se dedique a ser um vovô de academia, precisará fazer uma ou outra cirurgia e ficará, por algum tempo, com dificuldade de locomoção, impossibilitado de se abaixar etc.

Perceba que eu sou uma pessoa bem positiva e nem imagino que você pode vir a perder a visão por conta do diabetes ou precisar tirar um ou outro órgão ou membro num acidente ou em virtude de doença. Do nascimento aos dias finais, todos nós precisamos de acessibilidade em algum momento da vida.


Acessibilidade, aliás, é uma palavra que me remete à dignidade. Quando eu estou num lugar acessível, a sensação que eu tenho é que qualquer pessoa que estivesse lá comigo se sentiria respeitada, vista, validada.

O foguete tá dando ré. E talvez a gente esteja precisando dar a ré também em algumas atitudes e posturas. É sério que tem gente que acha que deu muito certo até aqui? Porque eu acho que não. Quando eu vejo um Uber que não espera a pessoa colocar o cinto de segurança para arrancar o carro, eu acho que precisamos, urgentemente, voltar duas casas nesse jogo da vida. Quando valores como segurança, respeito, empatia, são jogados no liquidificador da lógica capitalista do “sem tempo, irmão”, o foguete dando ré torna-se uma excrescência.

 
 
 

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©2020 por Luciana Garcia.

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