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  • Foto do escritorLuciana Garcia

Histórias para uma mãe atípica




A partir do momento em que as pessoas sabem que você é uma mãe atípica, elas passam a ter uma necessidade imediata de te contar alguma história sobre uma pessoa com a mesma deficiência do seu filho. Acho bonitinho, uma forma de empatia. De alguma maneira essa pessoa que chega pra compartilhar contigo é alguém que te imagina solitária no terreno da maternidade atípica. E sim, há uma solidão nesse território, mas não é nesse lugar. Isso talvez possa ser assunto pra um outro dia.


Mas graças às redes de apoio muito difundidas nesse nosso mundo tecnológico, encontramos pares para conversar e trocar ideias. Mas é claro que a esmagadora maioria das pessoas não sabe desse vasto mundo paralelo da diversidade e as histórias continuam chegando até a mim.


Essa semana foi surpreendida por uma história cujo desfecho foi algo diferente do que eu estava imaginando.

A pessoa se aproximou elogiando a desenvoltura da minha filha (de 11 meses) e disse que conhecia uma mãe de 2 meninos com Down. Porém essa mãe não estimulava os filhos a fazerem nada e que, dias atrás, um dos meninos saiu de casa, foi na loja, comprou o que ele queria e voltou direitinho, você acredita?!

Nossa! Fiquei muitíssimo surpresa tentando imaginar a idade dessas crianças. Até que perguntei. E quanto anos ele tem? – 24.


Gente. A não ser que a deficiência mental dessa pessoa seja muuuito acentuada, não há razão NENHUMA para essa pessoa não ter autonomia e independência! Essa história me fez lembrar que quando eu era mais jovem (ainda mais do que eu sou hoje, rs) eu adorava terrários. Na minha cabeça, o terrário era um mini-mundo onde tudo estava perfeito ali dentro. Eu não entendia que essa ideia de “mundo perfeito” era extremamente equivocada. Na verdade eu nem conhecia o mundo da maneira com que eu entendo hoje. O terrário é uma bolha onde a gente cria condições ideais para que uma planta ali permaneça. A planta de terrário não cresce. Ela não se desenvolve. Ela fica ali, “cristalizada”.


Por muitos anos, mães atípicas acreditavam que isolar seus filhos de situações cotidianas onde eles hipoteticamente encontrariam mais desafios que a maioria das pessoas era proteger a cria. Mas crescer isolado do mundo não faz escola pra ninguém. E quando eu não estiver mais aqui? Maya, minha filha, não terá ninguém para “cuidar” dela. Então ela terá que ser capaz de cuidar de si mesma, de administrar a sua vida. Se ela precisar de algo, precisará ser capaz de pedir ajuda e tomar decisões.


Muitas vezes, como pais, ficamos tão perturbados imaginando nossos filhos sofrerem que esquecemos que um dia não estaremos mais aqui.

Voltando ao terrário, gostaria de lembrar que as plantas que vivem em terrários (e que não crescem) são plantas saudáveis. Se você é um pai ou uma mãe típica, saiba que se impuser muitos limites para que seu filho se desenvolva ele não vai ultrapassar os limites do seu vaso. Se nós queremos autonomia, inclusão e equidade, precisamos colocar nossas crianças no vento (de forma metafórica, pelo amor de Deus!). As condições flutuantes do solo, da temperatura e oferta de água é que ensinam nossas plantinhas a se autorregularem e viverem de forma independente.

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